quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

DOMINGO DA SAGRADA FAMÍLIA 2014


Com a luz do Natal nos é manifestada a cada um de nós a infinita bondade de Deus. Em Jesus Cristo o Pai celestial inaugurou uma nova relação conosco; nos fez “filhos em seu Filho”. Não somos só criaturas; somos filhos. Deste modo nos atrai a si no momento de sua encarnação, ao fazer-se um de nós.
 Por conseguinte, pertencemos  verdadeiramente  à família que tem Deus  como Pai, porque Jesus, o Filho unigênito, veio colocar sua morada em meio a nós, a morada de sua carne, para congregar  todas as pessoas em uma única família, a família de Deus, que pertence realmente ao Ser divino: todos estamos unidos em um só povo, em uma só família.
Veio para nos revelar a verdadeira face do Pai. E se agora nós usamos a palavra Deus, já não se trata de uma realidade conhecida somente de longe. Nós conhecemos a face de Deus: é a face do Filho, que veio para fazer mais próxima a nós a terra, as realidades celestes. São João  explica: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado  a Deus, mas no fato de Ele nos ter amado primeiro” – 1Jo 4, 10.
No Natal ressoa no mundo inteiro o anúncio simples e desconcertante: “Deus nos ama”. “Nós amamos, diz S. João, porque Ele nos amou primeiro” 1Jo 4,19. Este mistério já está colocado em nossas mãos  porque, ao experimentar o amor divino, vivemos orientados às realidades  do céu. E o exercício destes dias consiste também em viver realmente orientados a Deus , buscando antes de tudo o Reino e a sua justiça, com a certeza de que o resto, todo o resto, nos será dado como acréscimo – cf Mt 6, 33. O clima espiritual do tempo natalino nos ajuda a crescer nesta consciência.
Contudo, a alegria do Natal nos faz esquecer o mistério do mal- mysterium iniquitatis-, o poder das trevas, que tenta obscurecer o esplendor da luz divina; e, infelizmente, experimentamos cada dia este poder das trevas. No prólogo do seu Evangelho, que proclamamos várias vezes nestes dias, o evangelista João escreve: “A luz brilha nas trevas, e as trevas não a acolheram” – Jo 1, 5.
É o drama da rejeição a Cristo que, como no passado, também  hoje se manifesta e se expressa, infelizmente, de muitas formas diversas. 
Talvez na época contemporânea estejam também mais disfarçadas e perigosas as formas de rejeição de Deus: vão desde a rejeição em si até a indiferença, desde o ateísmo cientificista até a apresentação de um Jesus que dizem moderno e pós-moderno. Um Jesus homem, reduzido de modo diverso a um simples homem de seu tempo, privado  de sua divindade; ou um Jesus tão idealizado que parece às vezes personagem de uma fábula.
Mas Jesus, o verdadeiro Jesus da história ,é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e não se cansa de propor seu Evangelho a todos, sabendo que é “sinal de contradições” – cf Lc 2, 34-35, como profetizou o velho Simeão.
 Na verdade, só o Menino que jaz no presépio possui o verdadeiro segredo da vida. Por isso pede que o acolhamos, que demos espaço em nós, em nossos corações, em nossas casas, em nossas cidades e em nossas sociedades.
Na mente e no coração ressoam as palavras do prólogo de São João: “A todos os que o acolheram lhes deu poder de tornar-se filhos de Deus” – Jo 1, 12.  Tratemos de nos contar entre os que o acolhem. Diante dele  ninguém pode ficar indiferente. Também nós, queridos amigos, devemos tomar posição continuamente.
Qual será, portanto, nossa resposta? Com que atitude o acolhemos? Vem em nossa ajuda a simplicidade dos pastores e a busca dos magos que, através da estrela, perscrutam os sinais de Deus; servem-nos de exemplo a docilidade de Maria e a sábia prudência de José.
 Os mais de dois mil anos de história cristã  estão cheios  de exemplos de homens e mulheres, de jovens e crianças e idosos que acreditaram no mistério do Natal  e abriram seus braços ao Emanuel, convertendo-se com sua vida em sinais de luz e esperança.
Que Maria nos ajude a abrir nosso coração ao Emanuel, que assumiu nossa pobre e frágil carne para compartilhar conosco o fatigoso caminho da vida terrena. Contudo, na companhia de Jesus este fatigante caminho se transforma em um caminho de alegria. Percorremos juntamente com Jesus, caminhemos com Ele; assim o ano novo será um ano feliz e bom.”

Cf.: Mistagogias de Bento XVI sobre a Igreja, tradução frei Boaventura Kloppenburg OFM, Ed. Vozes, 2007, pp 182-185.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO


“No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria” _ Lc 1, 26-27. 

O anúncio do nascimento de Jesus está ligado à história de João Batista, antes de tudo,  cronologicamente por meio da indicação do tempo decorrido depois da mensagem do arcanjo Gabriel a Zacarias, isto é, “no sexto mês” da gravidez de Isabel. Mas, nessa passagem, os dois acontecimentos e ambas as missões estão ligados  também a informação  de que Maria e Isabel – e, consequentemente, os seus  filhos – são parentes.
A visita de Maria a Isabel, que deriva como consequência do diálogo entre Gabriel e Maria – cf  Lc 1, 36, leva  - ainda antes do nascimento – a um encontro, no Espírito Santo, entre Jesus  e João, e nesse encontro torna-se evidente, ao mesmo tempo, a correlação das suas missões: Jesus é o mais jovem, Aquele que vem depois; mas é a proximidade d’Ele que faz João saltar  de alegria no ventre materno e cumula Isabel do Espírito Santo – cf Lc 1, 41. 
Assim, aparece objetivamente, já nas narrativas de São Lucas sobre o anúncio e o nascimento, aquilo que João Batista dirá, segundo o Evangelho de João: “É aquele de quem eu disse:  ‘Depois de mim, vem um homem que passou adiante de mim, porque existia antes de mim’” – Lc 1,30.

Na saudação do anjo, impressiona o fato de não dirigir a Maria a habitual saudação judaica shalom – a paz esteja contigo -, mas a expressão “AVE”, como sucede na oração mariana da Igreja – cf Lc 1, 28.42. khaire, Ave: Alegra-te! Com esse voto do anjo – podemos dizer -, começa propriamente o Novo Testamento.
A palavra volta a aparecer na Noite Santa, nos lábios do anjo que diz aos pastores: “Eis que vos anuncio uma grande alegria” – Lc 2,10. Aparece, em João, por ocasião do encontro com o Ressuscitado: “Os discípulos, então, ficaram cheios de alegria por verem o Senhor” – Lc 2, 20,20. Nos discursos de despedida, em João, aparece uma teologia da alegria, que esclarece, por assim dizer, as profundezas da palavra AVE: “ Eu vos verei de novo e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria” – Lc   16,22.
Nestes textos,  a alegria aparece como o dom próprio do Espírito Santo, como o verdadeiro dom do Redentor. Assim, com a saudação do anjo, sente-se ecoar o acorde  que atravessará o tempo da Igreja e que desembocará na totalidade do anúncio cristão: o Evangelho – a Boa Nova.
“Alegra-te”: nessa palavra do  anjo, abre-se imediatamente  a porta para os povos do mundo. Também vamos encontra-la no A. T. onde se situa plenamente na continuidade  da história da salvação. Na saudação do anjo a Maria, é retomada e atualizada a profecia de Sofonias 3, 14-17, que soa assim: “Rejubila, filha de Sião, solta gritos de alegria, Israel! (...) O Senhor, o teu Deus, está no meio de ti”.
A filha de Sião pode exultar, porque “o Senhor está no meio de ti” – Sf 3, 15.17, ou seja, “está no teu seio”.  Desse modo, Sofonias retoma palavras do Livro do Êxodo, que descrevem a habitação de Deus na arca da aliança como um habitar “no seio de Israel” _ cf Ex 33, 3; 34,9.  É precisamente essa palavra que aparece na mensagem de Gabriel a Maria: “Eis que conceberás no teu seio” – Lc 1, 31. Maria aparece como a filha de Sião em pessoa. As promessas que dizem respeito a Sião cumprem-se de modo inesperado n’Ela. Maria torna-se a arca da aliança, o lugar de uma verdadeira habitação do Senhor.
“Alegra-te , cheia de graça”. São formadas da mesma raiz. Alegria e graça andam juntas.
Maria dará à luz um filho, a quem o anjo  atribui os títulos  de “Filho do altíssimo” e “Filho de Deus” Além disso, é prometido que Deus, o Senhor, lhe dará o trono de seu pai Davi e o seu reino não terá fim. Mas “o seu reinado não terá fim”:  esse reino diverso não está construído sobre um poder mundano, mas funda-se apenas na fé e no  amor. É a grande força da esperança, no meio de um mundo que parece, com muita frequência, estar abandonado por Deus. O reinado do Filho de Davi, Jesus, não conhece fim, porque nele reina o próprio Deus, nele o Reino de Deus entra neste mundo. A promessa que Gabriel transmitiu à Virgem Maria é verdadeira; realiza-se sem  cessar.
A resposta de Maria ao anjo desenvolve-se em três etapas: A primeira reação à saudação do anjo é feita de perturbação e ponderação. A sua reação é diferente  da de Zacarias; dele é referido que ficou perturbado e “o temor apoderou-se dele” – Lc 1, 12. No caso de Maria, no início usa-se a mesma palavra – ela perturbou-se -, mas o que se segue  depois não é o temor, mas uma reflexão íntima sobre a saudação do anjo. Maria reflete – entra em diálogo consigo mesma-  sobre o que possa significar a saudação do mensageiro de Deus. 
 Assim vemos surgir já aqui um traço característico da figura da Mãe de Jesus, um traço que encontramos no Evangelho outras duas vezes em situações análogas: o confronto íntimo com a Palavra – Lc 2, 19.51.
Não se detém no primeiro sentimento que a assalta, ou seja, a perturbação pela proximidade de Deus através do seu anjo, mas procura entender. Por isso, Maria aparece como uma mulher corajosa, que conserva o autocontrole mesmo diante do inaudito. Ao mesmo tempo, é apresentada como a mulher de grande interioridade, que conjuga o coração e a mente, e procura entender o contexto, o todo da mensagem de Deus. Assim torna-se a imagem da Igreja, reflete sobre a Palavra  de Deus, procura compreendê-la na sua totalidade e guarda o dom dela na sua memória.
A segunda reação de Maria nos é enigmática. Depois da hesitação receosa com que Ela acolhe a saudação do mensageiro de Deus, o anjo lhe comunica a sua eleição para ser a mãe do Messias. Maria, agora, formula uma breve e incisiva pergunta: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?” – Lc 1, 34.  Não trata-se de duvidar. Maria não levanta questões sobre o ”que”, mas sobre “como” a promessa poderia ser realizada, uma vez que isso não era perceptível para Ela: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?” – Lc 1, 34. 
Essa pergunta parece incompreensível, pois Maria estava noiva e, de acordo com o direito judaico, era já considerada equivalente a uma esposa, mesmo que ainda não coabitasse com o marido e não tivesse começado a comunhão matrimonial.
A terceira reação de Maria: a resposta essencial de Maria: um simples “sim” daquela que se declara serva do Senhor. “Faça-se em mim segundo a tua palavra” – Lc 1, 38. Bernardo de Claraval, numa homilia de Advento, ilustrou de forma dramática o aspecto emocionante  desse momento. Depois do fracasso dos primeiros pais, o mundo inteiro está às escuras sob o domínio da morte. Agora Deus procura entrar de novo no mundo; bate à porta de Maria. Tem necessidade do concurso da liberdade humana: não pode redimir o homem, criado livre, sem um “sim” livre à sua vontade. 
Ao criar a liberdade, de certo modo, Deus se tornou dependente do homem; o seu poder está ligado ao “sim” não forçado  de uma pessoa humana. Ora, Bernardo afirma que, no momento do pedido de Maria ,o céu e a terra como que suspendem a respiração.  Dirá “sim”?! Ela demora... Porventura lhe será obstáculo a sua humildade? Só por esta vez – diz-lhe Bernardo – não seja humilde, mas magnânima! Dá-nos o teu “sim”! 
Esse é o momento decisivo, em que dos seus lábios , do seu coração, surge a resposta: “Faça-se em mim segundo a tua palavra”. É o momento da obediência livre, humilde e simultaneamente magnânima, na qual se realiza a decisão mais sublime da liberdade humana.
Maria torna-se mãe através do seu “sim”. 
Várias vezes os Padres da Igreja exprimiram tudo isso, dizendo que Maria teria concebido pelo ouvido, ou seja, através da sua escuta: através da sua obediência. 
A Palavra entrou nela, e nela se tornou fecunda. Nesse contexto, os Padres desenvolveram a ideia do nascimento de Deus em nós através da fé e do Batismo, por meio dos quais  o Logos vem a nós sem cessar, tornando-nos filhos de Deus. Pensemos, por exemplo, nas palavras de Santo Irineu: “Como poderá o homem tornar-se Deus, se Deus não se torna homem? 
Como deixarão o nascimento para a morte, se não forem regenerados em um novo nascimento, que nos foi dado, pela fé, de modo maravilhoso e inesperado por Deus , no nascimento  de uma Virgem, como sinal da salvação?”

“E  o anjo a deixou” – Lc 1, 38. A grande hora do encontro com o mensageiro de Deus, na qual toda a vida muda, passa; e Maria fica sozinha com a tarefa  que verdadeiramente supera toda a capacidade humana. Não há anjos ao seu redor; 
ela deve  prosseguir pelo seu caminho, que passará através de muitas obscuridades, a começar pelo espanto de José perante a gravidez   até o momento  em que se diz de Jesus que está “fora de si” – MC 3, 21;  Jo 10,20, antes, até a noite da Cruz.
O anjo parte, a missão permanece e, juntamente com a missão, matura a proximidade interior a Deus, o íntimo ver e tocar  a sua proximidade.”

Fonte consultada:  Bento XVI -  A infância de Jesus|Joseph  Ratzing; [ tradução Bruno Bastos Lins ]. – São Paulo: Planeta, 2012, pp29-38

PARÓQUIA SANTA EDWIGES 
BRÁS DE PINA - RJ
Pároco: Pe Givanildo Luiz Andrade
Imagens: Daniel Verdial

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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

IV DOMINGO DO ADVENTO - "O SENHOR VEM!"


Eis! Estamos no último dos quatro Domingos do santo Advento! A Igreja, agora, é toda atenção, toda contemplação do mistério da Encarnação, preparando-separa celebrar o Natal do Senhor. 
Sua vinda é a nossa salvação, sua chegada é o anúncio da esperança a todos os povos, a toda a humanidade, a anual celebração do seu Natal recorda-nos que nosso Deus não é de longe, mas de perto, de pertinho da humanidade toda e de cada um de nós. O Filho eterno de Pai fez-se homem para encher de Vida divina a nossa existência humana. 

Com a aproximação do Santo Natal, contemplamos a benevolência de Deus para toda a humanidade: no segredo do seu coração havia um amoroso e misterioso projeto: salvar toda a humanidade pelo fruto que haveria de vir da raça de Israel, da tribo de Judá, da Casa de Davi.
O que nos deve encantar neste Domingo, caríssimos, não é somente a grandiosidade desse Mistério, dessa surpresa de um Deus que, desde sempre, preocupou-se com todos, com toda a humanidade e não só com Israel… o que nos deve encantar é também o modo como o Senhor realiza o seu desígnio: Ele age nos escondido da história humana, no pequenininho de nossas vidas, nas humildes decisões de nossa existência. 
 Eis a bondade do Senhor, que de um simples pastorzinho fará nascer o Salvador que reina para sempre. Depois, podemos pensar em José, naquele que tinha recebido como prometida em casamento uma virgem mocinha chamada Maria… José, homem simples, moço de Deus. 

E o Senhor, misteriosamente o escolhe para ser o esposo daquela na qual se cumprirão as palavras do Senhor. Recordemo-nos do Evangelho segundo São Mateus: “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. 
Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1,20-21). 
Pobre José! Bendito José! Jamais esperaria tal coisa, tal gesto imprevisto do Santo de Israel! Ele, um simples carpinteiro, cuidador, tutor, guardador, de um filho que não seria seu filho! Ele escutaria, doravante, o Filho eterno do eterno Pai, chamá-lo de pai!
Finalmente, pensemos em Maria. Aqui a surpresa de Deus chega ao máximo. Uma jovenzinha pobre, uma virgem sem nome importante, perdida nas montanhas do norte da Terra Santa, em Nazaré da Galiléia. 
E o Senhor Deus lhe dirige a palavra, faz-lhe a mais estonteante proposta que um pobre filho de Eva jamais escutara: ser, virginalmente, a mãe do Messias, a Mãe do Filho de Deus, a Terra bendita e santa na qual brotaria a Raiz de Jessé, o Rebento prometido; ser a doce a Aurora do Dia sem fim, ser a Estrela d’Alva que prenuncia o Sol eterno! “Alegra-te, Cheia de Graça! O Senhor é contigo, Virgem Maria! Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus!”

O Senhor vem e nos convida a nós – a mim e a você – a que abramos nossa vida, nosso pequeno cotidiano, para a sua presença. Através de cada um de nós Ele deseja continuar a obra de sua salvação, a marca da sua presença neste mundo enfermo e cansado.
Virgem Maria, Mãe de Deus, São José, esposo da virgem, São Davi, rei e profeta, intercedei por nós, para que sejamos dóceis e úteis instrumentos da salvação que Deus hoje quer revelar e atuar no coração dos homens e do mundo. Que através de nossa pobre vida, vivida com disponibilidade, o Senhor Jesus seja visto no nosso mundo tão confuso, tão disperso, tão superficial e ameaçado por tantas trevas. Amém.

presbíteros.com


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

3º DOMINGO DO ADVENTO 2014

AS LEITURAS DO 3º DOMINGO DO ADVENTO GARANTEM-NOS QUE DEUS TEM UM PROJETO DE SALVAÇÃO E DE VIDA PLENA PARA PROPOR AOS HOMENS E PARA OS FAZER PASSAR DAS “TREVAS” À “LUZ”.

JOÃO É A VOZ, CRISTO, A PALAVRA
"João era a voz, mas o Senhor, no princípio, era a Palavra (Jo 1,1). João era a voz passageira, Cristo, a Palavra eterna desde o princípio.
Suprimi a palavra, o que se torna a voz? Esvaziada de sentido, é apenas um ruído. A voz sem palavras ressoa ao ouvido, mas não alimenta o coração.
Entretanto, mesmo quando se trata de alimentar nossos corações, vejamos a ordem das coisas. Se penso no que vou dizer, a palavra já está em meu coração. Se quero, porém, falar contigo, procuro o modo de fazer chegar ao teu coração o que já está no meu.
Procurando então como fazer chegar a ti e penetrar em teu coração o que já está no meu, recorro à voz e por ela falo contigo. O som da voz te faz entender a palavra; e quando te fez entendê-la, esse som desaparece, mas a palavra que ele te transmitiu permanece em teu coração, sem haver deixado o meu.
Não te parece que esse som, depois de haver transmitido minha palavra, está dizendo: É necessário que ele cresça e eu diminua? (Jo 3,30). A voz ressoou, cumprindo sua função, e desapareceu, como se dissesse: Esta é a minha alegria, e ela é completa (Jo 3,29). Guardemos a palavra; não percamos a palavra concebida em nosso íntimo.
Queres ver como a voz passa e a palavra divina permanece? Que foi feito do batismo de João? Cumpriu sua missão e desapareceu; agora é o batismo de Cristo que está em vigor. Todos cremos em Cristo e esperamos dele a salvação: foi o que a voz anunciou.
Justamente porque é difícil não confundir a voz com a palavra, julgaram que João era o Cristo. Confundiram a voz com a palavra. Mas a voz reconheceu o que era para não prejudicar a palavra. Eu não sou o Cristo (Jo 1,20), disse João, nem Elias nem o Profeta. Perguntaram-lhe então: Quem és tu? Eu sou, respondeu ele, a voz que grita no deserto: “Aplainai o caminho do Senhor" (Jo 1,19.23). É a voz do que grita no deserto, do que rompe o silêncio. Aplainai o caminho do Senhor, como se dissesse: “Sou a voz que se faz ouvir apenas para levar o Senhor aos vossos corações. Mas ele não se dignará vir aonde o quero levar, se não preparardes o caminho”.

O que significa: Aplainai o caminho, senão: Orai como se deve orar? O que significa ainda: Aplainai o caminho, senão: Tende pensamentos humildes? 
Imitai o exemplo de João. Julgam que é o Cristo e ele diz não ser aquele que julgam; não se aproveita do erro alheio para uma afirmação pessoal. Se tivesse dito: “Eu sou o Cristo”, facilmente teriam acreditado nele, pois já era considerado como tal antes que o dissesse. Mas não disse; pelo contrário, reconheceu o que era, disse o que não era, foi humilde. Viu de onde lhe vinha a salvação; compreendeu que era uma lâmpada e temeu que o vento do orgulho pudesse apagá-la".
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 293, 3: PL 38, 1328-1329-(Séc. V)
EVANGELHO (Jo 1,6-8.19-28)
“Surgiu um homem enviado por Deus, seu nome era João.  Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar: “Quem és tu?” 
João confessou e não negou. Confessou: “Eu não sou o Messias”. Eles perguntaram: “Quem

és, então? És tu Elias?” João respondeu: “Não sou”. Eles perguntaram: “És o Profeta?” Ele respondeu: “Não”. 
Perguntaram então: “Quem és, afinal? Temos que levar uma resposta àqueles que nos enviaram. O que dizes de ti mesmo?” 

João declarou: “Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’”, conforme disse o profeta Isaías. Ora, os que tinham sido enviados pertenciam aos fariseus e perguntaram: “Por que então andas batizando, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?” 
João respondeu: “Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis, e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias”. Isso aconteceu em Betânia além do Jordão, onde João estava batizando.

Paróquia Santa Edwiges em Brás de Pina
Pároco: Givanildo Luiz Andrade
Imagens: Daniel Verdial

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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

MISSA DA PRIMEIRA EUCARISTIA - DEZ/2014

Jesus ressuscitou e subiu ao céu; mas quis ficar conosco e para nós, em todos os lugares da terra. Antes de morrer na Cruz, oferecendo a sua vida ao Pai em sacrifício de adoração e de amor, Jesus instituiu a Eucaristia, transformando o pão e o vinho na sua mesma Pessoa e dando aos Apóstolos e aos seus sucessores, os Bispos e os Sacerdotes, o poder de O tornarem presente na Santa Missa.
Jesus, por conseguinte, quis ficar conosco para sempre!
 Jesus quis unir-se intimamente a nós na Sagrada Comunhão, para nos mostrar o seu amor direta e pessoalmente. Cada um pode dizer: "Jesus ama-me! Eu amo a Jesus"; Santa Teresa do Menino Jesus, recordando o dia da sua Primeira Comunhão, escrevia: "Oh, como foi doce o primeiro beijo que Jesus deu à minha alma!... Foi beijo de amor, sentia-me amada e dizia por minha vez: 'amo-vos, ofereço-me a vós para sempre'... Teresa tinha desaparecido como gota de água que se perde no meio do oceano. Ficava só Jesus: o mestre, o Rei" (Teresa de Lisieux, Storia di un'anima: Ediz, Queriniana, 1974).
E pôs-se a chorar de alegria e consolação, entre o espanto das companheiras.
Jesus está presente na Eucaristia para ser encontrado, amado, recebido e consolado. Onde quer que esteja um sacerdote, ali está presente Jesus, porque a missão e a grandeza do Sacerdote é precisamente a celebração da Santa Missa.
Jesus está presente nas grandes cidades e nas pequenas povoações, nas igrejas de montanha a nas longínquas cabanas da África e da Ásia, nos hospitais e nas prisões; até nos campos de concentração estava presente Jesus Eucarístico!
Queridos meninos! Recebei Jesus com frequência! Permanecei n'Ele; deixai-vos transformar por Ele!
JESUS É O VOSSO MAIOR AMIGO
Não o esqueçais nunca! Jesus quer ser o nosso amigo mais íntimo, o nosso companheiro de caminho.
Sem dúvida tereis muitos amigos; mas não podeis estar sempre com eles e nem sempre eles vos podem ajudar, ouvir e confortar.
Jesus, pelo contrário, é o amigo que não vos abandona nunca; Jesus conhece-vos um por um, pessoalmente; conhece o vosso nome, segue-vos, acompanha-vos, caminha convosco todos os dias; participa nas vossas alegrias e conforta-vos nos momentos de aflição e de tristeza. 
Jesus é o amigo de que não podemos prescindir, uma vez que o encontramos e compreendemos que nos ama e quer o nosso amor.
Com Ele podeis falar, abrir-vos; a Ele podeis dirigir-vos com afeto e confiança. Jesus morreu nada menos que na Cruz por amor de nós! Fazei um pacto de amizade com Jesus e não o interrompais nunca! Em todas as situações da vossa vida, dirigi-vos ao Amigo Divino, presente em nós com a sua "Graça", presente conosco e em nós na Eucaristia.
E sede também os mensageiros e as testemunhas alegres do Amigo Jesus nas vossas famílias, entre os vossos colegas, nos lugares dos vossos divertimentos e das vossas férias, nesta sociedade moderna, muitas vezes tão triste e insatisfeita.

JESUS ESPERA-NOS
A vida, longa ou breve, é uma viagem para o Paraíso: é lá a nossa Pátria, é lá a nossa verdadeira casa; é lá o nosso encontro! Jesus espera-nos no Paraíso! 
Não esqueçais nunca esta verdade suprema e confortante. E que é a Sagrada Comunhão senão um Paraíso antecipado? De fato, na Eucaristia é o próprio Jesus que nos espera e encontrá-lo-emos um dia face a face no Céu.
Recebei Jesus com frequência, para nunca esquecerdes o Paraíso, para estardes sempre a caminho da casa do Pai Celeste, para saboreardes já um pouco o Paraíso!
Isto tinha-o compreendido Domingos Sávio, que aos sete anos conseguiu licença de receber a Primeira Comunhão, e naquele dia escreveu os seus propósitos: 
"Primeiro: confessar-me-ei com muita frequência e farei a Comunhão todas as vezes que o confessor me der licença. Segundo: quero santificar os dias festivos. Terceiro: os meus amigos serão Jesus e Maria. Quarto: a morte, mas não pecados".
Isto que o pequeno Domingos escrevia há tantos anos (em 1849); vale ainda agora e valerá para sempre.
Caríssimos, concluo dizendo-vos, meninos e meninas, mantende-vos dignos de Jesus que recebeis! Sede inocentes e generosos! Empenhai-vos em tornar a vida bela a todos, com obediência, com gentileza, com boa educação! O segredo da alegria é a bondade!
E a vós, pais e parentes, digo com ansiedade e confiança: amai os vossos meninos e meninas, respeitai-os, edificai-os! Sede dignos da sua inocência e do mistério encerrado na sua alma, criada diretamente por Deus! Eles têm necessidade de amor, de delicadeza, de bom exemplo e de maturidade!
 Não os descureis. Não os atraiçoeis!
Confio todos vós a Maria Santíssima, a nossa Mãe do céu, a Estrela do mar da nossa vida: implorai-a todos os dias, vós, meninos e meninas! Dai-Lhe, a Maria Santíssima; a vossa mão para que vos conduza a receber santamente Jesus.
E dirijamos também um pensamento de afeto e de solidariedade a todas as crianças que sofrem; a todas as crianças que não podem receber Jesus porque não O conhecem, a todos os pais que foram dolorosamente privados dos seus filhos ou estão desiludidos e amargurados nas suas expectativas.

No vosso encontro com Jesus rezai por todos, recomendai todos, invocai graças e auxílios para todos! E pedi também por mim, vós que sois os meus prediletos!

PAPA JOÃO PAULO II - 14 de Junho de 1979 - Vatican.va